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A Transmissão da Locação aos Herdeiros do Locador

  • Foto do escritor: Thales de Menezes
    Thales de Menezes
  • 4 de abr.
  • 4 min de leitura

O contrato de locação é um instrumento jurídico que estabelece direitos e obrigações entre locador e locatário. Um dos aspectos fundamentais desse contrato é sua continuidade, mesmo diante de eventos que afetem diretamente uma das partes. O Artigo 10 da Lei nº 8.245/91 (Lei do Inquilinato) dispõe sobre um desses casos, determinando que, em caso de falecimento do locador, a locação será automaticamente transmitida aos seus herdeiros.

Essa regra garante segurança jurídica tanto para o inquilino quanto para os sucessores do locador, evitando a interrupção repentina do contrato e assegurando que as obrigações pactuadas sejam cumpridas até o fim do prazo originalmente estabelecido.


1. O Que Significa a Transmissão da Locação?

Quando um locador falece, seus direitos e deveres relacionados ao contrato de locação são transferidos aos herdeiros. Isso significa que:

  • O contrato permanece válido, mantendo as condições originais estabelecidas.

  • Os herdeiros assumem o papel de locadores, devendo respeitar os termos acordados.

  • O inquilino continua a pagar os aluguéis normalmente, agora para os novos proprietários ou administradores do imóvel.

Esse princípio se baseia na continuidade das obrigações contratuais e na manutenção da função social da locação, garantindo que a moradia ou o estabelecimento comercial do locatário não seja abruptamente interrompido.


2. Quem São os Novos Locadores?

A transmissão da locação ocorre automaticamente com o falecimento do locador, mas é necessário identificar quem passa a ser o responsável pelo contrato.

Os novos locadores serão os herdeiros legais ou testamentários do falecido, o que pode incluir:

  • Cônjuge ou companheiro(a)

  • Filhos

  • Pais

  • Irmãos (caso não haja descendentes ou ascendentes)

  • Qualquer outro beneficiário definido em testamento

Se houver vários herdeiros, todos passam a ter direito sobre a propriedade e, consequentemente, sobre a locação. Nesses casos, um inventariante ou administrador do espólio pode ser nomeado para gerir o contrato até que a partilha do imóvel seja concluída.

Enquanto o inventário não for finalizado, o inquilino deve continuar pagando o aluguel normalmente, evitando deixar valores acumulados que possam gerar problemas futuros.

 

3. O Locatário Pode Ser Despejado Com a Morte do Locador?

A simples morte do locador não encerra o contrato de locação. Portanto, o locatário não pode ser despejado apenas por esse motivo.

A única forma de os herdeiros solicitarem a devolução do imóvel antes do fim do contrato é se houver algum motivo legal que justifique a rescisão, como:

  • Descumprimento de cláusulas contratuais por parte do inquilino (atrasos no pagamento, mau uso do imóvel, entre outros).

  • Situações previstas na Lei do Inquilinato, como a necessidade de uso próprio pelos herdeiros (respeitando as regras específicas para esse tipo de retomada).

 Se a locação for por prazo determinado, o contrato deve seguir até seu vencimento, salvo acordo entre as partes para encerrá-lo antes.

 

4. Obrigações dos Herdeiros Como Novos Locadores

Ao assumir o contrato, os herdeiros devem cumprir as mesmas obrigações que o locador original tinha, incluindo:

  • Receber os aluguéis e fornecer recibos ao locatário.

  • Manter as condições pactuadas no contrato até o vencimento.

  • Realizar manutenções e reparos de responsabilidade do locador, conforme a lei.

  • Respeitar os direitos do locatário, sem exigir a saída do imóvel sem justificativa legal.

 Se houver mais de um herdeiro e o imóvel não for vendido ou dividido, os aluguéis devem ser pagos proporcionalmente a cada um, ou a um administrador designado para essa finalidade.

 

5. A Situação do Imóvel Durante o Inventário

Quando um imóvel alugado faz parte do patrimônio de um falecido, ele entra no processo de inventário, no qual os bens são avaliados e distribuídos entre os herdeiros.

 Durante esse período:

  • O contrato de locação continua vigente.

  • O aluguel pode ser pago a um administrador do espólio ou depositado judicialmente caso haja disputa entre os herdeiros.

  • O imóvel só pode ser vendido se todos os herdeiros concordarem ou se houver determinação judicial.

 Se, após a partilha, o imóvel for herdado por mais de uma pessoa, elas devem decidir em conjunto como lidar com a locação: manter, renegociar ou vender o imóvel.

 

6. Exemplo Prático

Imagine que João seja proprietário de um apartamento alugado para Maria por um contrato de 30 meses. João falece antes do vencimento do contrato, deixando dois filhos como herdeiros.

Com base no Artigo 10 da Lei do Inquilinato, a locação não é interrompida e os filhos de João passam a ser os novos locadores. Maria continua pagando o aluguel normalmente para os herdeiros.

Se os herdeiros decidirem vender o imóvel, o contrato pode seguir válido caso haja uma cláusula de vigência averbada na matrícula do imóvel. Caso contrário, o novo proprietário pode pedir a desocupação, respeitando os prazos legais.

Se Maria estivesse inadimplente ou descumprisse o contrato, os herdeiros poderiam ingressar com uma ação para despejá-la, mas apenas com um motivo legalmente válido.

 

7. O Que Acontece Se o Locatário Falecer?

Se, ao invés do locador, for o locatário que falece, a regra muda. Nesse caso, seus herdeiros ou cônjuge têm o direito de continuar a locação, desde que morem no imóvel. Se ninguém desejar assumir o contrato, os sucessores podem rescindi-lo, respeitando os prazos e obrigações previstos.

A continuidade da locação em caso de falecimento do inquilino está prevista no Artigo 11 da Lei do Inquilinato.

  

8. Conclusão

O Artigo 10 da Lei do Inquilinato protege a estabilidade dos contratos de locação, assegurando que a morte do locador não interrompa automaticamente o contrato. Seus herdeiros assumem a posição de locadores, garantindo a continuidade do aluguel até que o prazo estipulado termine ou até que haja um motivo legítimo para rescisão.

Para os inquilinos, essa regra significa que não podem ser despejados arbitrariamente, proporcionando previsibilidade e segurança habitacional. Já para os herdeiros, a transmissão do contrato pode representar um direito patrimonial, permitindo que recebam os valores do aluguel até decidirem o futuro do imóvel.

Dessa forma, a lei busca equilibrar os interesses das partes envolvidas, garantindo que a locação continue de forma justa e legal, independentemente do falecimento do locador original.

 


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